domingo, dezembro 24, 2006

Feliz Natal e Feliz Ano Novo

Ontem tivemos um mini-natal em casa (já que hoje à noite vamos todos estar dormindo, todo mundo trabalha amanhã, the horror!): minha irmã e meu cunhado vieram dormir em casa, fizemos pizzas e ficamos no papo até as 2 da manhã. Ganhei presentinhos, comi muito e fiquei momentaneamente embriagada com um copo de cerveja (amadora!). Amanhã, 25 de dezembro, vamos fazer um almoço de confraternização no trabalho, estou levando empadão de frango.

À todos um Feliz Natal e até o ano que vem!

terça-feira, dezembro 19, 2006

PASSEI!

Passei na prova escrita (em inglês) de legislação japonesa de trânsito! É assim: para estrangeiros que ainda não têm carteira de habilitação no país de origem, deve-se tirar a carteira japonesa (quem já tem a carteira de habilitação do país proveniente só transfere a carteira) e para tal é preciso fazer 4 provas:
  1. prova escrita (em japonês ou inglês) - consiste em 50 perguntas; consegui!
  2. prova de percurso - sã0 3 percursos e o percurso que faço a prova é sorteado na hora (quem já passa nessa prova pode dirigir acompanhado de alguém que já tenha a carteira japonesa por no mínimo 3 anos);
  3. prova escrita (em japonês ou inglês) - consiste em 100 perguntas;
  4. prova de rua - dirigir na rua. FIM!

Acordei bem cedo para fazer a prova e o céu estava bonito (foto acima: meu bloco com o céu ao fundo, o traço no céu é feito por jatos militares que sobrevoam vez ou outra). Entrei na sala para fazer a prova, muitos estrangeiros: brasileiros, filipinos, peruanos e é claro, muitos japoneses também. Do nosso grupo de estrangeiros, apenas eu e mais 3 meninas passaram, é mole? Mas esse é só o começo, daqui pra frente fica cada vez mais difícil. Sem falar que, detalhe, não sei dirigir! Mas enfim... Depois fui comprar mais um presente de Natal, agora ficou faltando só mais um.

Vou comemorar!

sábado, dezembro 16, 2006

xmas

Hoje à tarde saí para fazer compras de Natal, de ônibus, o estranho é que fiz praticamente o mesmo caminho que faço todos os dias para ir trabalhar, oh well... Olhei muito e acabei voltando só com 2 presentes e 2 pedaços de bolo para a sobremesa de hoje. O Ale está doentinho, ficou em casa debaixo da coberta tomando minestrone para ficar melhor (na foto ao lado, ele comendo macarrão no Saizeriya, na quarta-feira à noite).

Andei muito, saí de casa meio-dia e voltei às quatro e meia. As lojas estavam impossíveis e os shoppings estavam crawling with people - seria mais divertido se o Ale estivesse comigo... Eu nem parei para almoçar, achei meio deprimente comer em restaurante de shopping sozinha.

Antes de sair de casa fiz uma faxina na cozinha e estudei para a prova.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

101 tarefas em 1001 dias

Michael Green, um cara da Nova Zelândia, tem um blog-projeto com uma idéia bacana: cumprir 101 tarefas em 1001 dias. As tarefas não são exatamente "tarefas" per se (ou seja, não são obrigações). Em sua lista, entre outras 101 coisas, estão: achar uma boa biblioteca e se tornar membro da mesma, assistir todos os episódios de The Sopranos e aprender a identificar dez plantas e árvores nativas (da Nova Zelândia, claro). E Michael Green incentiva seus leitores a fazerem o mesmo. Vou fazer uma lista de 101 coisas que quero fazer em 1001 dias, mas há algumas "regras": as tarefas devem ser específicas com resultados mensuráveis ou claramente definidos. As tarefas também devem ser realistas e exigir algum esforço de sua parte. Vou fazer minha lista e colocá-la em prática de janeiro de 2007 até dezembro de 2009. Bring it on!

Hoje estou em casa e fui arrumar minhas bagunça de presilhas, correntes, miçangas, etc. (primeira foto acima). Achei tanta coisa que não uso e não gosto mais, mas também achei muita coisa que poderia ser reciclada: desmanchei um colar dourado antigo que nunca usei e com um pedaço de renda preta fiz uma pulseira: o contraste entre correntes e renda ou correntes e pérolas me intriga. Acabei fazendo uma outra pulseira, em que uso um pedaço de renda preta para dar o laço. Guardei esse meu lado lolita-gótica em uma lata antiga de biscoitos, eu guardo latas de tudo, é um problema. Agora vou descansar, assistir o filme A Morte lhe Cai Bem pela milésima vez e depois estudar mais legislação do trânsito - minha prova é na terça-feira que vem.

UPDATE:

19:55. Tomei banho no ofurô com sais de lavanda, fica uma cor tão linda e um cheiro muito bom. Levei um livro, encostei a cabeça e fiquei marinando... Depois fiz janta ouvindo Earth, Wind & Fire, agora vou estudar mais.

domingo, dezembro 10, 2006

o novo jeans

Moda é lúdica para mim, algo sem fronteiras. Tiro minhas referências de filmes que gosto, de coisas que remetem à uma fase da minha vida e de pessoas na rua. E ver o que outras pessoas estão vestindo e suas próprias referências é muito inspirador. Há um tempo atrás comprei um vestido cinza e agora eu não saio dele, uso com tudo e digo: vestido cinza é o novo jeans.

(acima: fotos retiradas dos blogs The Sartorialist, Face Hunter e a última foto é do desfile de outono/inverno 2006 da Chloé)



Uma de minhas inspirações é a Agathe (foto acima), 24 anos, mora em Oslo, capital da Noruega, estuda árabe e o oriente Médio na Universidade de Oslo e tem um dos blogs de moda mais interessantes na internet, o Style Bytes, tecendo comentários sobre sua vida, os lugares que visita, sobre o que ela lê e vê. Embora bebendo o estilo de várias fontes, ela consegue ter um estilo pessoal, o que é difícil nesses dias de hoje.

sábado, dezembro 09, 2006

saturday - yay

Eu gosto de morar perto das montanhas (foto acima, da varanda) e já me conformei com a idéia de que nunca vou morar em um lugar tão bonito (há a exceção: caso eu venha a morar com a janela sob o mar). Quando estou mal humorada basta abrir a janela, ouvir os pássaros, ver o verde - a natureza cura tudo. E hoje cedo estava muito frio. Ainda bem que não tive que ir trabalhar. Fui à costureira e ao mercado, não posso ficar sem mexericas. À tarde assisti uns filmes, comi gelatina de uva que é feita de konnyakku e agora vou ler Anne Rice.
Estou lendo o sexto livro das Crônicas de Vampiro da Anne Rice, são 10 livros ao todo (acima, apenas 9, o outro está ao lado da cama). Sempre olhei com interesse as obras da Anne Rice e esse ano mergulhei à fundo em seus livros. Próxima etapa: ler a saga das bruxas Mayfair.

Hoje à noite iríamos ao cinema, mas com esse frio todo vamos ficar em casa, ver uns filminhos, fazer pipoca para tomar com chá.

Tenha um sábado bacana.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

fotos do celular

Apesar de não adorar meu celular, devo confessar que a qualidade das imagens tiradas com a câmera do mesmo são ótimas. De cima p/ baixo, da esquerda p/ a direita: esperando o trem na estação e tomando um sol para me aquecer, enroladíssima em um cachecol, comendo mexerica na hora do intervalo, caffè latte (com meu nome escrito para colocar na geladeira coletiva), a sala de intervalo no trabalho e mais uma vez eu tomando sol, esperando o trem para ir trabalhar.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

cross bones style

A punk rocker em mim há muito tempo procurava um colar de skull and cross bones (primeira foto à esquerda) e ontem encontrei o que queria e por uma pechincha (última foto à direita) - agora estou procurando um colar de maçã (foto ao centro).

E de acordo com minha filosofia minimalista, para cada coisa nova que eu comprar, vou me desfazer de algo que não uso mais. Amanhã vou doar à uma colega de trabalho uma bolsa rosa que comprei e nunca usei. É isso, reciclando as energias.

Semana que vem vou decorar minha casa para o Natal e quem sabe fazer uns cookies.

ouvindo: cross bones style, Cat Power.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

segunda, Iemanjá e frio.

Saí do trabalho de bicileta e fui até a estação de trem e esqueça a data em que o inverno começa - quando você sai e seu rosto e suas mãos congelam em 2 minutos, o inverno chegou. Parei em uma loja de conveniência (que os japoneses chamam de kombini - do inglês convenience store) e peguei um latte do Starbucks e inerte pelo frio sorvo o latte pensando que o logo do café em questão parece Iemanjá (o mikaiá ê!). Já na estação de trem, um senhor lê um livro de pernas cruzadas, um rapaz folheia sem interesse uma revista e uma mulher ao meu lado troca e-mails em seu celular e balnça o pé - se em inquietude ou se por muito frio, deixo à você. Em meu canto penso que amanhã preciso vir de touca e um cachecol mais grosso. A estação então vazia se enche de rostos pálidos, pessoas segurando copos de papel com café. Já no trem, sento-me ao lado de uma mulher em seus 25 anos, enrolada em um cachecol que chega-lhe às bochechas. Ela senta-se polidamente segurando uma enorme bolsa e um saco de papel. Aposto que tem pão dentro. Olho pela janela e vejo meu rosto espelhado. Mais um dia que acaba.

domingo, novembro 26, 2006

the devil wears tweed tights

Deixei minha cama quentinha (e um marido também) hoje bem cedo, comi torta de maçã com café au lait e fui à um salão japonês, de ônibus, retocar minha permanente nos cílios - que mega hair que nada, matsugue perm é o fututo! A foto acima é de quando fiz pela primeira vez. A dona do salão é muito simpática, sabe falar várias coisas em português pois o filho estuda com brasileiros e usa produtos da Natura (ela disse que a linha de Maracujá é a sua preferida).

o diabo veste meias de tweed: (foto acima)

De minha mãe ganhei vários pares de meia calça de inverno da TriFil, que vieram via irmã. Como estava frio, usei a meia de tweed com um vestido de lã cinza e um casaco bem quentinho. Depois fomos (eu e Alexandre, minha irmã e meu cunhado) almoçar em um restaurante italiano em que eu comi um spaghetti de frutos do mar de outro mundo e de sobremesa um mousse de frutas vermelhas. Sair com minha irmã é um barato, ela é muito bacana e só me faz rir - I love her to pieces!

Acabei de chegar em casa, agora vou tomar um banho e estudar (estou estudando leis de trânsito para tirar minha carteira de habilitação japonesa).

Até.

quarta-feira, novembro 22, 2006

minimalismo japonês

Minimalismo é a tendência em reduzir tudo ao seu estado fundamental e necessário. Embora eu não concorde com (ou não entenda?) vários aspectos da cultura japonesa - eu adoro o minimalismo: a capacidade que os japoneses têm de transformar o mínimo em máximo. Estaria o minimalismo japonês intrinsecamente ligado ao zen budismo na medida em que não precisamos de muito para ser feliz? Os monges mesmos dizem que a comida que entra em seu corpo durante um dia cabe na palma de suas mãos.

Eu acho interessante observar pequenos padrões de minimalismo se repetindo e se espelhando em várias facetas: como a alga (nori) do sushi se assemelha à um Obi (faixa de um kimono ou um yukata) - (ilustração acima). Dia desses me desfiz de 2 sacolas enormes de roupas, sapatos e bolsas que não uso mais. E nada daquilo me faz falta. Ainda preciso me desfazer de coisas que tenho só porque paguei caro (mas nunca usei) e revistas velhas que coleciono (mas só empoeiram).

Procuro o minimalismo em minha vida: o muito com pouco.

sábado, novembro 18, 2006

jantar com minha irmã

Minha irmã chegou no Japão na quarta-feira (ela e meu cunhado moram aqui há muito tempo, mas ela está voltndo das férias no Brasil) e o melhor: vai morar a 25 minutos (de carro) da minha casa. Ela chegou na quarta-feira mas só vou vê-la hoje, vamos sair para jantar (está friozinho, vou inaugurar minha jaqueta preta de botões enormes).

Estou ansiosa para vê-la, a última vez que nos vimos foi em agosto do ano passado quando ela veio aqui em casa me visitar no feriadão prolongado (golden week), na época ela morava em outro estado. Estou com muita saudade.

Sem nada demais para fazer, vou tocar guitarra e depois ver TV - vai passar Resident Evil: Apocalypse.

Até.

terça-feira, novembro 14, 2006

TV

Pseudos intelectuais repudiam a televisão. Assistiu TV? Imagina, eu estava lendo Os Imãos Karamazov! Por bem ou por mal eu vejo TV e muitos seriados (que, olha, são como novelas que se arrastam por anos) e filmes. Quer bater no peito com orgulho que não assiste TV? Ótimo. Eu assisto TV e antes de dormir vou ler Arthur Miller. Há de tudo na TV e existe em suas mãos uma arma poderosa: o controle-remoto, com ele você acha coisa melhor para ver, programas com humor inteligente e gente interessante ou simplesmente a desliga e vai dar uma volta em um parque, ler um bom livro ou ficar jogando conversa fora com os amigos em casa.

Assisto muito Queer Eye for the Straight Guy. 5 gays são recrutados para transformar para melhor a vida de um cara "straight" (hetero). Engraçadíssimo - o FAB FIVE (Jai, Thom, Ted, Carsson e Kyan) me faz lembrar porque sempre tive amigos gays. Lá que aprendi que o vinho para acompanhar sobremesa deve ser mais doce que a própria sobremesa - entre outras coisas. Eu troco qualquer outra programa por esses caras!


E você, o que anda TVendo?

segunda-feira, novembro 13, 2006

LUFT laft zoom

Eu leio Lya Luft. Adoro-a. Mas nem sempre foi assim. Me interessei pela Lya Luft ao ler uma de suas colunas na revista Veja - interessei-me porque odiei-a à primeira vista. E como sempre pesquiso um(a) autor(a) antes de ler alguma de suas obras, descobri que a Lya Luft traduziu para o português o livro The Bell Jar da minha amada Sylvia Plath.

Li a Lya por causa da Sylvia, veja só.

O David Bowie, o eterno camaleão do rock, uma vez disse que você não olha para o Warhol (Andy Warhol, artista plástico americano) e pensa "aquele cara que pintou latas de sopa", mas sim "o que aquele cara tem de tão interessante que o fez pintar latas de sopa?". E o mesmo sucedeu-se com a Lya - o que ela tem de tão interessante que a compeliu a traduzir Sylvia Plath?

"Não existe isso de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade. Puta que pariu, não é assim. Isso não existe. É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher. Faço tudo de mulher, como mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isso de homens com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem." - LYA LUFT, escritora.

domingo, novembro 12, 2006

Tate e fotografia


Assisti Little Man Tate mais uma vez. O filme é brilhante. O que há para não gostar? Jodie Foster e Harry Connick Jr. (menino-jazzístico que adoro). Sem falar nas telas que o personagem Fred Tate pintava. Não tenho a força criativa para telas como aquela da cabeça de aquário. Só a fotografia me salva e me acalenta, porque nela me encontro: minhas lentes não me julgam, elas são a melhor parte de mim, a parte que a maioria das pessoas não vê. Quando assisti Lost in Translation, a personagem Charlotte diz que já tentou fotografar, mas suas fotos são medíocres, apenas fotos de seus próprios pés e que toda menina tem uma fase de fotografia, como a fase de gostar de cavalos - me vi completamente nessa situação. Hoje não me preocupo mais em ser brilhante (embora eu seja um tanto perfeccionista) e ver um propósito em tudo. Aprendi dar valor ao improviso, ao inesperado e tudo bem se eu tirar fotos de meus próprios pés.

foto: "a contorcionista" 2003, giselle zayat.

sábado, novembro 11, 2006

27 COISAS QUE ME DEIXAM FELIZ

Alexandre;
Dar risada ao telefone com minha mãe e minha irmã;
Ler um bom livro;
Comer melancia em um dia de calor;
Andar em meio ao verde;
Aprender línguas;
Um beijo apaixonado;
Ouvir uma história engraçada ou estranha;
Dormir bem;
Ficar na cama até mais tarde aos domingos;
Receber um presente inesperado;
Uma xícara de café pela manhã;
Comer alguma coisa que eu estava com vontade de comer;
Ouvir um elogio sincero;
Encontrar algo que pensava ter perdido;
Gatos e cachorros;
Ouvir notícias de pessoas que gosto e não vejo há muito tempo;
Olhar fotos antigas (e não só as minhas);
Cheiro de cabelo lavado;
Chocolate amargo;
Trabalhar com as mãos;
Dar risada;
Ser compreendida sem ter que me explicar;
Um sorriso de verdade;
Cozinhar alguma coisa e alguém dizer que está uma delícia;
Brincar na neve como se eu fosse criança;
Assistir O Mágico de Oz e cantar junto as músicas.

27 coisas que alegram meus dias para os meus 27 anos.

sexta-feira, novembro 10, 2006

carta à uma poetisa

Estou lendo The Unabridged Journals of Sylvia Plath. E os poemas de Ana C. - não me surpreende que a segunda teve o fascínio suficiente para traduzir a primeira e que as duas tiveram o mesmo fim por quase as mesmas angústias. Ler Sylvia Plath é como ler a mim mesma. Quantas vezes não li Ariel e Lady Lazarus a pensar que estava lendo o reflexo de um espelho? Há dias em que não consigo sequer pentear o cabelo, outros em que apenas a luz que entra pela cortina do quarto me fascina e me faz entender a beleza do mundo, a beleza de ser, de existir.

Às vezes queria te dizer que seis anos me fizeram mentir e me negar, por isso guardo nosso tempo juntas em uma pequena caixa, a little pandora box, onde por vezes me acho e me perco. Sobrevivo com as sobrancelhas semi-arqueadas e os lábios úmidos semi-abertos, uma quasi-Afrodite, às avessas com o que me cerca. Sou eu tão errada em me enterrar em meu pequeno universo de poemas e prosa e de ideais (embora perdidos)?

"(...)Pois não há tempo, pois não há mais tempo, em vez disso há o medo súbito e desesperado, o relógio que bate e a neve que cai de repente demais após o verão. Certo, sou dramática e meio cínica, indolente e meio sentimental. Mas nos anos fáceis poderei amadurecer e descobrir meu caminho. Agora estou vivendo numa situação crítica. Estamos todos na beira do precipício, isso exige muito vigor, muita energia, seguir pela borda, olhar para baixo, ver a escuridão profunda sem ser capaz de identificar através da névoa amarelada e fétida o que jaz abaixo do lodo, na lama que escorre cheia de vômito; e assim sigo em frente, imersa nos meus pensamentos, escrevendo muito, tentando achar o centro, um significado para mim.(...)"
– Os Diários de Sylvia Plath.

ARIEL
Estancamento no escuro
E então o fluir azul e insubstancial
De montanha e distância.
Leoa do Senhor
Como nos unimos
Eixo de calcanhares e joelhos!... O sulco
Afunda e passa, irmão
Do arco tenso
Do pescoço que não consigo dobrar.
Sementes
De olhos negros lançam escuros
Anzóis...
Negro, doce sangue na boca,
Sombra,
Um outro vôo
Me arrasta pelo ar...
Coxas, pêlos;
Escamas e calcanhares.
Branca
Godiva, descasco
Mãos mortas, asperezas mortas.
E então
Ondulo como trigo, um brilho de mares.
O grito da criança
Escorre pela parede.
E eu
Sou a flecha,
O orvalho que voa,
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho
Vermelho, caldeirão da manhã.

(Tradução: Ana Cândida Perez e Ana Cristina César)

quinta-feira, novembro 09, 2006

violino e violoncelo


A foto acima é a obra Violon d'Ingrés (1924) do grande fotógrafo Man Ray. Eu adoro essa foto porque ela é uma perfeita dicotomia do ser/parecer: Man Ray usa os F-holes de um violino para compor uma imagem sensual e intrigantecom o corpo da mulher... Mas é assim - interpretar fotografia é como interpretar poesia, ninguém pode te dizer o que você deve sentir.

Enfim, a foto da direita sou eu.


Ou como diria Foucault sobre a obra Ceci n'est pas une pipe do Magritte - um quadro que mostra um cachimbo, e abaixo dele escrito em francês: esse não é um cachimbo (foto acima); aquilo não é um cachimbo e sim a representação de um cachimbo.
Pois bem, essa não sou eu - eu não sou definida pelo que aparento, a foto é uma representação do que sou. Um dia quero tatuar os f-holes em minhas costas, para me lembrar disso sempre.

Sejam bem-vindos à essa etapa da minha vida.

Para conhecer ou se deliciar:
Magritte:
aqui e aqui;
Man Ray: aqui e aqui;